quarta-feira, 30 de março de 2011

Por um fio - resenha

Ele chegou até mim naquele compêndio de livros que ganhei no verão. Penso que não é exatamente o livro que eu escolheria para ler, por ignorância minha, mas veio em excelente hora. Assim como o "Estação Carandiru", foi escrito pelo Dr. Drauzio Varella, mais do que experiências de um médico, traz histórias de vida que dão lições preciosas despretenciosamente.
A proposta do livro é um reflexão que o autor faz ao longo de sua carreira de médico sobre o comportamento humano diante da perspectiva de morte. Contudo, o livro fala de vida. O autor tenta compreender porque, ou como as coisas "ganham" um novo sentido quando alguém se encontra com uma doença grave como a AIDS ou o cancêr; não apenas isso, ele tenta compreender porque não percebemos esses significados quando gozamos de plena saúde, quando a morte nos parece longínqua.
Confesso que por diversas vezes me emocionei lendo - o que não é nada difícil - conforme as histórias são contadas, seu significado vai sendo percebido. Casos simples, como o de um marido que ao perceber que a vida de sua amada chegará ao fim em breve, resolve fazer tudo para que ela viva feliz seus últimos momentos. Ou da filha pequena de um grande mestre da medicina, que ensinou ao Drauzio (quando este ainda era apenas aluno de medicina), que negava-se terminantemente a tratar a filha por achar que se ele não poderia fazer nada pela menina ninguém mais faria. Depois de uma franca conversa com o médico Drauzio, o professor resolve permitir que ele então aplique o tratamento a menina, que é curada.
"Nunca mais nos vimos. Dois anos mais tarde soube de sua morte pelos jornais. A menina, encontrei adulta, ao lado do marido e de um casal de filhos pequenos, num restaurante. identificou-se com timidez, mas depois me deu um abraço carinho e chorou. Sorrindo, o marido disse que era assim, ela chorava toda vez que me via aparecer na televisão."
 É de forma simples que o autor escreve, podendo cativar dos mais exigentes aos mais simples leitores. Permite uma reflexão sobre a vida agora, uma reflexão sobre a efemeridade da vida. Outra trecho que achei lindo, durante a história do casal que citei acima, quando o marido conta como conheceu sua esposa amada ao Dr., e como pediu-a em casamento:
" - Joana, meus pais arrastaram frustrações, mágoas e implicâncias mútuas pela vida afora. Não que brigassem... nem chegavam a esse ponto... eram silenciosos na presença um do outro. Não vou viver assim, prometi desde menino. Quero pedir você em casamento para sermos felizes; nunca brigaremos por causa do tubo de pasta de dentes, nem por ciúmes descabidos; pretendo ser seu companheiro pelo resto da vida, sentar no sofá da sala com você a noite, escutar 'Moonlight serenade' e me sentir em paz com a mulher que mais desejo, no melhor lugar do mundo." 
Depois desta última citação, a única coisa que acredito que possa ser dita, é para que você aprecie esta leitura o quanto antes; e espero que ela te faça refletir sobre a vida como me fez.

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